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Após novo abalo sísmico de magnitude 3.6 na Escala Richter, no último 24 de julho, em Jaguarari, no centro-norte da Bahia, a Sociedade Brasileira de Geologia (SGB) emitiu uma nota técnica, no início deste mês de agosto, recomendando a paralisação temporária das operações de mineração no município, para análise dos impactos. Jaguarari abriga um depósito de minério de cobre, descoberto em 1874 e explorado há 45 anos.


O tremor no final do mês de julho foi registrado no distrito de Pilar, próximo a uma planta de mineração da EroBrasil Caraíba. Moradores locais relataram terem sentido o abalo. A EroBrasil, em resposta, afirmou ter suspendido as atividades na área, destacando que o epicentro estava fora de sua zona de atuação, em uma falha geológica já conhecida.

Após esse tremor, mais de 70 pequenos abalos sísmicos ocorreram no dia seguinte, embora imperceptíveis para os habitantes. De acordo com o Laboratório Sismológico da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis/UFRN), Jaguarari já registrou 41 tremores acima de 1,5 de magnitude neste ano, sendo agora a área de maior atividade sísmica do Nordeste.


“Tem sido algo recorrente e, dada a importância das atividades de mineração, é importante haver monitoramento integrado com estudos geológicos e geofísicos. Conhecer é o primeiro passo; a gente só protege aquilo que conhece”, afirmou Anderson Nascimento, professor do LabSis, ao portal Uol. Ele ressaltou que a sismicidade relacionada a atividades em minas subterrâneas é um fenômeno documentado cientificamente.


RISCOS

Em sua nota técnica, o SGB alertou para a urgência de estudar as atividades mineradoras na região de Pilar. “O epicentro do tremor [do dia 24] foi na mesma área onde está instalado um empreendimento mineiro com lavra subterrânea e que emprega um grande contingente de trabalhadores(as). Geologicamente, a área está localizada em terrenos com rochas que possuem mais de 2,5 bilhões de anos, sendo truncadas por importantes estruturas geológicas profundas”, afirmou o SGB.


A entidade destacou que a ocorrência de tremores em locais com mineração subterrânea acarreta “risco geológico, tanto para os trabalhadores das minas quanto para a população residente nas proximidades”. O SGB recomendou a elaboração de um mapa detalhado para categorizar os riscos nas áreas com sismos recorrentes, sugerindo a paralisação das atividades nas zonas mais suscetíveis.


O QUE DIZEM OS GEÓLOGOS


Simone Cruz, geóloga da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e presidente do SGB, reforçou a necessidade de suspender as atividades nas áreas mais vulneráveis a eventos sísmicos. “Isso vale também para as áreas com maior ocorrência de fraturas geológicas que fragilizam as rochas, para garantir a segurança das pessoas que lá trabalham. Quanto aos riscos para os moradores do entorno, isso deve ser verificado por meio de um estudo de suscetibilidade na área da mina e arredores”, explicou.


Carlos Uchoa, professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), enfatizou a necessidade de cuidados redobrados em áreas de mineração diante de tremores recorrentes. “Caso eventos sísmicos sejam comuns, principalmente se houver estruturas geológicas que possam ser reativadas, provocando tremores na superfície, é preciso atenção. Eventos diretamente associados à atividade de mineração também podem ocorrer, tanto por detonações, comuns em áreas mineradas, como pela movimentação de grandes blocos de rocha devido ao processo de extração”, afirmou.


MONITORAMENTO


Em nota, a EroBrasil informou que, “imediata e preventivamente, em cumprimento ao seu procedimento interno de segurança, evacuou a mina subterrânea e paralisou todas as atividades até que fosse feita uma inspeção-geral nas estruturas”.


A empresa destacou que o evento sísmico ocorreu a cerca de 1.000 metros de profundidade, fora de sua área de mineração e em uma falha geológica conhecida. Além disso, a EroBrasil afirmou que não houve atividade de desmonte ou detonação nas operações da mina subterrânea no período em questão.


Com 3.181 trabalhadores, entre diretos e terceirizados, a EroBrasil assegura que a mina é “integralmente monitorada por um sistema de microssísmico”. “Esse sistema capta microvariações do solo, permitindo-nos tomar ações preventivas quando necessário. Caso sejam identificadas variações, a equipe de geotecnia passa a monitorar a área, isolando-a e removendo os colaboradores, se necessário”, explicou a empresa.


Nos casos de sismos sem registro prévio de microvariações, como o ocorrido no dia 24, a EroBrasil afirmou que evacua preventivamente a mina e paralisa as atividades até que dados técnicos suficientes estejam disponíveis para garantir a retomada segura das operações.


A empresa também informou que utiliza dados de satélite, analisados por uma empresa externa independente, para detectar possíveis movimentações de terra ao longo do tempo. Além disso, realiza inspeções rotineiras em minas subterrâneas para verificar in loco a estabilidade das galerias, o que pode resultar em novos investimentos em infraestrutura, como melhorias estruturais das contenções.



Com informações do Uol

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